Desde a infância até aos quarenta e quatro anos, dezessete dos quais vividos como um padre católico (1955-1972), a Igreja Romana tinha sido o pilar da verdade para mim e guia infalível no que se refere a Deus. Este “pilar da verdade”, a Igreja Romana, não era construído somente das Escrituras infalíveis, mas também de muitas “tradições” humanas, distantes da verdade bíblica; tradições que eram mantidas como revelações de Deus, mas que, na verdade, contradiziam os evidentes ensinos das Escrituras e a estas se opunham.
Durante o século I, nos dias dos apóstolos, a verdade era pregada nas ruas e nas áreas do templo de Jerusalém. Foram estas pregações que se tornaram o que hoje temos como o conteúdo do Novo Testamento. O livro de Atos nos fornece um testemunho daquela pregação: “Crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé” (Atos 6.7). Ao preço de grandes perdas pessoais, aqueles sacerdotes judeus regidos pelo Antigo Testamento deixaram tudo e se tornaram seguidores de Jesus. Quando a verdade (a “espada de dois gumes”, a Palavra de Deus — Hebreus 4.12), fisgou-lhes o coração, eles deixaram tudo e seguiram a Jesus. Todos os ex-padres católicos que se tornaram “obedientes à fé” podem se identificar com esta passagem, desde Wycliffe, Hus, Lutero até aos nossos dias.
Em diferentes épocas e de várias maneiras, Deus tem usado sua Palavra escrita para libertar homens, até mesmo padres católicos! “Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam crido nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8.31-32). Em 1972, quando eu era o padre da Igreja Católica do Sagrado Coração, em Rayville, Estado de Louisiana (Estados Unidos), a verdade e a graça do Senhor se tornaram claras para mim. Eis a minha história:
Batismo, primeira comunhão, crisma
Em 1928, ainda bebê, fui batizado na Igreja Católica Romana. Quando tinha apenas um ano de idade, minha família mudou-se do Estado de New York para New Milford, no Estado de Connecticut, onde cresci e fui educado na fé católica. Acreditava piamente em
todas as práticas e crenças católicas, levando muito a sério meu relacionamento com a igreja e, portanto, com Deus. Minha primeira comunhão e a crisma foram eventos de grande importância para mim. Depois de concluir o Ensino Médio, fui ao Tufts College, em Boston, para fazer um curso preparatório para a Faculdade de Medicina, esperando um dia tornar-me um médico, assim como o meu respeitado tio. No entanto, ao final de dois anos de estudo, tudo o que eu desejava era ser um padre. Senti que era mais importante ajudar espiritualmente as pessoas do que dar-lhes ajuda médica.
O seminário
Em setembro de 1948, iniciei os estudos para o sacerdócio no Seminário St. John, em Brighton, Estado de Massachusetts. Como eu amava o seminário! Tudo era tão “santo” lá. Contudo, no final de meu primeiro ano de estudos ali, desisti. Senti que não estava à altura de ser um padre, visto que naquela época me convencera de que ser padre era a mais elevada vocação possível na vida de um rapaz. Ingressei no Boston College (jesuíta) e auxiliava na missa quase todas as manhãs, no convento católico local. Naquela época, durante o outono de 1949, Deus me salvou pela sua graça (o único meio!), embora eu não tivesse muito conhecimento das Escrituras. Jesus salva o arrependido, ainda que este se encontre em um caminho de confusão e trevas. Eu havia chegado a um ponto em que tinha muita incerteza a respeito de meu relacionamento com Deus; e, acima de qualquer outra coisa, anelava estar certo quanto a esse relacionamento.
Uma confissão diferente
Certa noite, ajoelhei-me no confessionário e contei todos os pecados que podia lembrar de minha vida. Nas confissões, sempre contava meus pecados primeiramente a Deus, embora estivesse na presença de um padre que me daria a “absolvição” final. “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 João 1.9). Depois de expressar meu arrependimento, enquanto o padre fazia o ritual de “absolvição”, clamei a Deus de todo o meu coração: “Ó Deus, se o Senhor me perdoar todos os pecados, eu O tornarei Senhor de meu coração e O servirei pelo resto de minha vida”. “Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Romanos 10.13). Ao sair daquele confessionário e atravessar toda a igreja, senti grande paz e, em meu coração, exclamei: “Abba, Pai!” Eu estava certo de que tinha um relacionamento com Deus! Isto não aconteceu por causa da presença de um padre e da absolvição litúrgica, e sim por causa da presença de Jesus Cristo, nosso grande Sumo Sacerdote, que intercedeu por mim e me tornou objeto de sua graça, misericórdia e compaixão. “No qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça…. Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Efésios 1.7; 2.8- 9).
No ano seguinte, entrei novamente no seminário para terminar meus estudos para o sacerdócio, o melhor caminho que conhecia para servir a Deus naquela época. Fui ordenado pelo bispo Lawrence Shehan, de Bridgeport, no Estado de Connecticut; e, em 2 de fevereiro de 1955, comecei meu ministério como um padre diocesano (ou secular), na Diocese de Alexandria (Estado de Louisiana). A grande alegria que eu sentia pela minha
posição singular no serviço de Deus esvaeceu-se após alguns anos; e, embora tentasse fazer tudo de maneira correta, tal alegria se tornou vazia, um ritual sem qualquer significado.
A Bíblia, um novo padrão
Em 1971, após vários anos clamando a Deus por algo mais significativo, minha fome foi saciada. Jesus e a Palavra de Deus (as Escrituras) se tornaram reais para mim. Visto que “o amor de Deus é derramado em nosso coração” (Romanos 5.5), o Espírito Santo me levou a julgar a teologia do catolicismo romano pelo padrão bíblico. Antes, eu sempre julgava a Bíblia pelas doutrinas e teologia católicas. Foi uma reversão de autoridade em minha vida.
Em uma noite de domingo, em julho de 1972, comecei a ler a Epístola aos Hebreus, no Novo Testamento. Esta epístola exalta a Jesus, seu sacerdócio e seu sacrifício, colocando- os acima de toda a Antiga Aliança ou Testamento. Este foi um dos trechos que li naquela noite: “Que não tem necessidade, como os sumos sacerdotes, de oferecer todos os dias sacrifícios, primeiro, por seus próprios pecados, depois, pelos do povo; porque fez isto uma vez por todas, quando a si mesmo se ofereceu” (Hebreus 7.27). Isto me alarmou, e comecei a me sentir bastante inquieto. Entendi, pela primeira vez, que o sacrifício de Jesus foi um sacrifício único, oferecido no Calvário, de uma vez por todas, que, em si mesmo, é eficaz para me reconciliar com Deus, assim como a todos os crentes arrependidos, de todas as épocas. Naquela ocasião, percebi que o “Santo Sacrifício da Missa”, oferecido diariamente por mim e milhares de outros padres, em todo o mundo, era uma falácia completamente irrelevante. Se o “sacrifício” que eu oferecia todos os dias, como padre, não tinha significado, então, o meu sacerdócio que existia com o propósito de oferecer tal sacrifício também não tinha significado. Esta compreensão foi confirmada quando continuei a leitura de Hebreus 10: “Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus, aguardando, daí em diante, até que os seus inimigos sejam postos por estrado dos seus pés. Porque, com uma única oferta, aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados” (vv. 12-14); “Ora, onde há remissão destes, já não há oferta pelo pecado” (v. 18).
Salvo pela graça de Deus
Naquela noite, a Igreja Católica perdeu sua credibilidade para mim, visto que havia ensinado como verdade aquilo que era contrário às Escrituras. Então, escolhi as Escrituras como meu padrão de verdade, não aceitando mais como meu padrão a autoridade de magistério ou de ensino da Igreja Católica. Em minha carta de resignação do sacerdócio e da Igreja Católica, disse ao bispo que estava deixando o sacerdócio porque não podia mais celebrar a missa, pois esta era contrária à Palavra de Deus e à minha consciência. Isto aconteceu em 1972. Pouco tempo depois, fui batizado por imersão, comecei meus estudos bíblicos e fui ordenado ministro do evangelho. Por mais de vinte anos, tenho vivido na liberdade sobre a qual Jesus falou: “Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará… Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (João 8.31-32,36).
Alexander Carson
Até ao ano de 1994, o ministério de Alexander Carson focalizou-se mais em seminários, evangelismo e pregação, na Flórida (Estados Unidos). Em 1995, pregou extensivamente em diversos países da Europa Oriental. Em março de 1996, realizou um ministério de seis semanas na Sibéria. Ao ouvir uma entrevista de rádio realizada por Bob Bush, um crente russo entrou em contato com Alexander Carson, e, como resultado, retornou à Rússia, a fim de proclamar o evangelho.